RU486: UM PRODUTO PERIGOSO

Perigoso para as crianças, claro está, mas também para as mães.
O relatório científico da Comissão Internacional de Pesquisa do RU486 , que data de abril de 1990, já o estabelecia, um ano antes de sair à luz a primeira morte causada pelo RU 486. Este relatório explica de modo preciso o que é realmente o RU 486:


RELATÓRIO DA COMISSÃO
INTERNACIONAL DE PESQUISA
SOBRE O RU 486

BP 167 - 92805 PUTEAUX - FRANÇA, Abril de 1990

Comitê Médico e Científico :

Prof. André DELMAS, presidente da Academia Nacional de Medicina (França)
Prof. Bernard ANTOINE, chefe do serviço de Nefrologia (Hospital Necker)
Pierrette CHATEAU-RAYNAUD, diretora de pesquisa no CNRS (Conselho Nacional de Pesquisa Científica - França)
Prof. André CORNET, Academia de Medicina
Bernard KERDELHUÉ, diretor de pesquisa no CNRS, comissão INSERM de Endocrinologia
Prof. Pierre MAGNIN, Farmacologia, reitor honorário da Academia, chefe de serviço CHU Besançon
Prof. Michel PIERSON, chefe do serviço de Genética Médica (CHU Nancy)
Prof. J.P. RELIER, chefe do serviço de Medicina Neonatal (Hospital Cochin)
Serge RENAUD, diretor de pesquisa INSERM (Instituto de Estudos e Pesquisas Médicas - França)
Prof. Pierre de VERNEJOUL, comissão de Farmacologia e Terapêutica experimental do CNRS


A autorização outorgada pelo Senhor Évin, Ministro de Solidariedade, Saúde e Proteção social em 28 de dezembro de 1988, (AMM -Autorização de colocação no mercado ), para a comercialização da molécula ROUSSEL-UCLAF RU 486, também denominada mifepristona, com a adição de prostaglandinas para fornecer uma indicação "por prescrição médica", como alternativa para a interrupção cirúrgica voluntária da gravidez (IVG), tem para nós numerosas objeções:

1) Uma Comissão constituída para emitir opiniões, antes de que o ministro autorizasse a comercialização, era por acaso a única competente para dar uma opinião sobre o RU 486 que, segundo a atividade reivindicada pelo laboratório fabricante, não tinha nada de medicamento?

Não teria sido mais apropriado, por razões éticas e de segurança, ampliar dita Comissão?

Realmente, devido à ausência, potencialmente temível, de referências analógicas sobre este composto, teria sido prudente basear-se em opiniões da comunidade dos ginecologistas obstetras, assim como em respectivas instâncias do INSERM e do Comitê nacional do CNRS.

Além disso, as recomendações do Comitê Nacional de Ética e da Convenção Internacional de Helsinki não foram respeitadas.

Finalmente, na França, nem todos os estudos sobre o aborto não terapêutico foram feitos respeitando estritamente a Lei Veil de 1975; alguns abortos foram feitos fora dos centros de ortogenia destinados a este fim.

2) No plano científico e médico, foi inicialmente demonstrado, e amplamente confirmado, que esta molécula era um antiglucocorticóide muito potente. Sua atividade antiprogesterona só foi posta em evidência mais tarde.

É uma pena, no entanto, que os decididores de ROUSSEL-UCLAF não tenham preferido desenvolver uma molécula cuja atividade antiglucocorticóide fosse menos importante que sua atividade antiprogesterona.

Embora, até a data [Abril de 1990, N.D.L.R] não tenha sido comunicado nenhum acidente devido a este efeito (talvez porque o RU 486 estimula forte e prolongadamente a produção de ACTH e de cortisol por ruptura da homeóstase do eixo corticotrópico), sempre existiria a possibilidade de acidente em uma mulher que ignorasse ter uma disfunção supra-renal e poderia ser observado a partir de uma amostra importante de pacientes que recebem RU 486.

Trata-se de um fato infelizmente comum na toxicologia clínica, na qual os incidentes relativamente menores aparecem em séries médias (de 1.000 a 10.000 observações), enquanto que o acidente grave aparece em séries maiores (entre 20.000 e 50.000 observações).

Pareceria ser que, além disso, a quantidade de RU 486 administrada deve ser altamente elevada (1.000 vezes a quantidade normalmente utilizada para os esteróides), impedindo que o efeito seja proporcional à quantidade administrada e que o produto tenha uma prolongada vida média plasmática.

3) Contrariamente à afirmação de que este produto foi selecionado com o conhecimento de seu mecanismo de ação, continua sendo evidente que o(s) mecanismo(s) de ação do RU 486, que deveria(m) levar à eliminação do feto, dista(m) muito de ter sido esclarecido(s).

Em poucas palavras, a molécula funciona somente na presença de uma concentração suficiente de progesterona e, além disso, como no caso do eixo corticotrópico, tanto no animal quanto no ser humano, o RU 486 perturba o funcionamento do eixo gonadotrópico,

Uma publicação saída do laboratório de Bygdeman ( Contraception , 29, 1984, páginas.399/409) chegava à conclusão de que era urgente melhorar a eficácia da ingestão de RU 486, a fim de substituir o método de aspiração do feto devido a uma constância excessiva de fracassos.

Os resultados em grande escala obtidos desde então, mostraram que a porcentagem de fracassos chegava a 40%.

Por esse motivo, este mesmo laboratório, que já tinha feito antes estudos sobre os efeitos embriolíticos das prostaglandinas, propôs que se fizessem trabalhos para pôr primeiro o RU 486 em ação, sendo seguido pelas prostaglandinas.

Dito tratamento levou a uma proporção de casos bem sucedidos superior a 90 %, evidentemente com a contrapartida dos tão bem conhecidos efeitos secundários das prostaglandinas:
- transtornos digestivos graves, diarréias, náuseas e vômitos,
- dores uterinas violentas, tão dolorosas como no parto,
- riscos cardiovasculares e respiratórios.

Não há conhecimento, além disso, dos efeitos secundários da associação de RU 486 com as prostaglandinas.

4) O efeito secundário mais importante observado até a data, continua sendo o das metrorragias uterinas que podem durar mais de uma semana (de 1 a 35 dias) e que acontecem em mais de 90 % dos casos, depois que RU 486 é administrado.

Em bom número de casos foi necessário uma "revisão uterina" de urgência para deter a hemorragia. Em alguns casos, foi preciso, inclusive, recorrer à transfusão, com o risco que isto acarreta.

Em inúmeros casos, independentemente do sucesso ou do fracasso do aborto, observou-se uma queda (de 1 a 6 g/dl) da proporção de hemoglobina, associada a um queda do hematócrito de 30 % em média, o que derivou em tratamento por metilergometrina, ferro ou a uma vitaminoterapia.

Cabe perguntar se estas quedas das constantes hematológicas não terão favorecido o aparecimento de alguns casos de coronarite recentemente observados logo depois de se administrar as prostaglandinas e que obrigaram a um necessário seguimento cardiológico.

Seguimento cardiológico que só se tornou obrigatório há pouco tempo. No entanto, no VIDAL já figurava como um imperativo, indicando-se que, para a administração de NALADOR (sulprostona), um dos derivados sintéticos da prostaglandina E2 utilizada com RU 486, era mister:
- efetuar a administração sob controle médico constante (em um serviço especializado de gineco-obstetrícia dotado de equipamento de reanimação e de monitorização que permitisse tratar imediatamente um eventual acidente),
- controlar imperativamente, e de maneira freqüente, as funções respiratória e circulatória.

O motivo do coma de 36 horas observado faz pouco,durante um aborto voluntário "pela administração do fármaco", não terá sido a negligência na estrita observância destas instruções?

5) Parece que, atualmente, os especialistas já aceitam reconhecer que a associação das prostaglandinas com RU 486 "convertem" o "try marcado" pelo RU 486. Por outro lado, o "pré-tratamento" com RU 486 permite reduzir as quantidades abortivas de prostaglandinas. Não é verdade, portanto, afirmar que o efeito abortivo é provocado pelo RU 486, porque se este for administrado sozinho, não age em mais de 60 % dos casos. Por outro lado, esta última quantia varia muito (aproximadamente em 20 %) de um centro de pesquisa para outro, sem que se explique o motivo dessa diferença. Fala-se sobre um "efeito aprendizagem" do pesquisador...

6) Qual é, então, "o medicamento" que representa uma "autêntica" alternativa para a Interrupção Voluntária da Gestação por via cirúrgica?

Além dos riscos muito maiores que se corre em comparação com o método cirúrgico, no qual tudo conclui em 6 horas, com complicações mínimas em 7 semanas de amenorréia, com o método farmacológico existe uma incerteza sobre o resultado que dura de 5 a 12 dias.
Na prática, o aborto voluntário, associado a RU 486 e às prostaglandinas se desenvolve do seguinte modo:
-consulta para tomar os comprimidos,
-internação de 12 horas no dia seguinte para tomar a injeção das prostaglandinas,
-expulsão, em 80 % dos casos, nesse mesmo dia ou noite seguinte,
-nova injeção de prostaglandinas em 20 % dos casos restantes,
-fracasso para 5 % das mulheres que recorrerão à cirurgia,
-aproximadamente 5 a 10 % de hemorragias persistentes que exigirão tratamentos médicos ou cirúrgicos. - é imprescindível realizar, alguns dias depois do aborto, uma ecografia e uma dosagem de HCG para estar completamente seguro de que não ficou nenhum resíduo do feto.

Além disso, é mister praticar de todos modos um aborto cirúrgico, se RU 486, associado às prostaglandinas não funcionar como abortivo.

Com efeito, atualmente não se dispõe de dados sobre a fetotoxicidade de RU 486 na espécie humana. Esta recomendação imperativa deriva de um trabalho de A.JOST ( C.R. Acad. Sc. Paris , Ser.III, 303, 1986, págs..281/284), no qual se observaram anomalias teratológicas severas em fetos a termo, após a administração de RU 486 em coelhas prenhadas.

Além disso, sabe-se há tempos que as prostaglandinas são teratogênicas, tanto para o animal (Teratological testing, 2, 1979, pág.161/177) quanto para o homem. (J.Pédiatr., 102, 1983, pág.620/621).

Todos estes pontos deveriam ser claramente expostos às mulheres que desejassem utilizar este método.

7) Que atitude o médico deveria tomar, se a mulher grávida que tomou RU 486 não comparecesse para que lhe fossem administradas as prostaglandinas sem as quais RU 486 não é suficientemente eficaz ? Que deve ser feito com as pacientes que se "perdem de vista" entre os dois "tratamentos" ?

8) RU 486 também está sendo considerado como um agente terapêutico para o tratamento do câncer de mama, de determinadas doenças neuropsiquiátricas, do "estresse" e dos partos difíceis. Quais são as bases experimentais?

Na realidade, no que diz respeito ao câncer de mama, certos trabalhos, recentemente publicados em uma importante revista científica internacional, demonstraram inclusive o contrário, ou seja, um forte efeito estimulante de RU 486 sobre o crescimento de uma linha celular (linha T 47D) cancerosa da mama ( Endocrinology, 124, 1989, pág.2642/2644).

É preciso ter presente também que muitas destas patologias requerem um tratamento prolongado, que é inconciliável com a atividade antiglucocorticóide do produto e, curiosamente, com suas propriedades inibidoras sobre o sistema imunológico (J. CLIN, Endocrinol. Metab. 69, 1989, pág.1195/1199).

9) Quanto ao orçamento do sistema de Previdência Social (Sécurité Sociale) , não deixa de surpreender-nos que se justifique este novo "tratamento" como uma alternativa preferível ao aborto por aspiração, sendo que dito tratamento exige uma supervisão muito mais severa:
- aumento do número de visitas obrigatórias,
- meios de estudo mais complexos (há pouco tempo, acrescentou-se o eletrocardiograma a uma lista sumamente longa e cara).

O preço fixado no Boletim Oficial (1.407,65 F) será suficiente para cobrir os custos dos exames complementários imprescindíveis que exige esta técnica ?

No plano econômico, além disso, não se pode esperar nenhum "reembolso de investimento", porque o "mercado" de risco ao que se "aponta" não pode de modo algum ajustar-se aos critérios admitidos pelos especialistas da indústria farmacêutica.

10) É razoável, então, e digno da Medicina Francesa, que foi e continua sendo brilhante em inúmeros campos, a vontade de impor na França e de exportar, especialmente para países do Terceiro Mundo carentes de nossa alta tecnologia médica indispensável para o controle destes abortos, uma técnica dolorosa e tão difícil de dominar?

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