Engano sobre os produtos - 2

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A subversão

Para conseguir a utilização universal destes dispositivos abortivos, quando a maior parte da população do mundo tem uma atitude a priori negativa a respeito do aborto, foi preciso mentir, mentir muito, e instalar mecanismos eficazes de desinformação:

Primeira fase, a infiltração: para "fazer engolir a pílula", foi ocultado seu caráter abortivo, suspeito desde o início e confirmado rapidamente.

Assim, em 1965, uma mulher católica dizia : "Na minha cabeça, eu me perguntava: como funciona isto? Eu sei que um teólogo universitário estava preocupado pelas implicações morais. A grande pergunta era: a pílula, impede a concepção, ou bem destrói o feto depois de que a concepção teve lugar? Ninguém sabia realmente."(1), isso não lhe impedia continuar tomando a pílula...

O lobby eugenista tinha começado a diluir o assunto: o pesquisador sueco Bent Boving já tinha feito a seguinte observação durante um simpósio de Planejamento Familiar/ Population Council em 1959 : "Em última instância, o fato de outorgar ao controle da implantação a vantagem de ser considerado socialmente como uma prevenção da concepção mais que como a destruição de uma gravidez estabelecida, é simplesmente um hábito de linguagem prudente"(2).

Naquela época, com efeito (1964), o Population Council era consciente de que a aceitação ou a rejeição de seus produtos dependeria de seu caráter abortivo ou não.

Em 1969, o Comitê Consultivo da FDA (Estados Unidos), dirigido pelo doutor Philip Corfman, deu a conhecer o seguinte relatório sobre o uso da "pílula" : "O segundo efeito principal é sobre o endométrio. Os progestágenos atuam como anti-estrogênios, provocando uma alteração nas glândulas do endométrio, e como progestágenos causando reações pseudodeciduais. Os dois efeitos afetam a capacidade do endométrio para participar no processo da implantação."(3).

Como todo relatório científico, a este e aos outros, o grande público não teve muito acesso. Também se publicaram livros sobre os efeitos secundários nas mulheres: são em geral esmagadores e questionam a indústria farmacêutica, pouco disposta a ver diminuir sua clientela. Entre estes livros destaca-se o "Dossiê hormônios"(4) de Barbara e Gideon Seaman. Os autores, que têm, entretanto, uma visão feminista-eugenista, efetuam uma análise factual. O livro, publicado em 1977 nos Estados Unidos, é publicado na França em 1982, traduzido, entre outros, por Maya Surduts, que reaparece mais tarde na CADAC (grupo extremista anti-Resgate) que busca hoje fazer a promoção da "pílula".

Seria errôneo pensar que a comunicação sobre os perigos e o caráter abortivo dos anticoncepcionais hormonais foi mal feita. A verdade é mais perturbadora: na verdade, o público não queria saber muito. No curto prazo, a contracepção química permitia às mulheres planejar melhor sua vida profissional e familiar, num contexto de desvalorização das famílias e de crescentes pressões fiscais e sociais. A nova técnica permitia também divulgar a revolução sexual, vendida como uma liberação de tabus opressivos e injustos.

Segunda fase, a consolidação. Consiste em alterar o sentido das palavras para reforçar a ignorância da realidade. Primeiro, busca-se enganar sobre a natureza humana do embrião. A academia americana de ginecologia inventa uma nova definição da "concepção" em 1965 : "A concepção é a implantação do óvulo fecundado".

A conseqüência lógica é uma nova definição da palavra "aborto": fazer morrer o embrião depois da sua implantação. Assim, o aborto é assimilado a um fenômeno mecânico de separação do útero, e já não à incriminação penal e moral. A publicidade do lobby da "contracepção de urgência" fala claro: "O uso da contracepção de urgência não provoca um aborto. Na verdade, a contracepção de urgência impede a gravidez e, portanto, reduz a necessidade de abortos provocados. A ciência médica define o início da gravidez como a implantação de um ovo fecundado na mucosa do útero da mulher. A implantação tem lugar cinco a sete dias depois da fecundação. A contracepção de urgência opera antes da implantação, e não quando a mulher já esta grávida." (5)

Baulieu, o muito midiático promotor do RU486 -- produto que nunca inventou, ainda que isso incomode seus cortesãos -- utiliza o mesmo argumento para promover as drogas abortivas que atuam antes da implantação, apesar de haver reconhecido que o embrião é um ser humano desde a fecundação mesma (processo Nathanson/ Baulieu 1992).

Os Estados ocidentais, então, legislaram dentro de uma bruma sustentada intencionalmente (6) : é assim como os dispositivos intra-uterinos e as pílulas hormonais foram classificados como meios "anticoncepcionais".

Outras subversões da linguagem também são levadas a cabo pelo mesmo complexo eugenista-industrial, apontando aos países do Terceiro Mundo, contrários ao aborto. Em Bangladesh fala-se de extração ou de regulagem menstrual: O termo aborto provocaria a repressão, enquanto que as palavras substitutas, utilizadas com arte, conseguem transpor o obstáculo.

Terceira fase, o desdobramento. Consiste em continuar avançando, em forçar um ponto mais o sentido das palavras, até inverter o sentido: até chamar o aborto de contracepção, e a eugenia de bioética. Para isso o aborto é apresentado como um meio para salvar vidas. A OMS calcula números fantasiosos de mulheres mortas como conseqüência de abortos clandestinos (acabam de pular de 200.000 a 800.000 mulheres por ano no mundo)(7) de maneira inexplicável, já que o que é clandestino é, por definição, impossível de contabilizar. Por sua vez, os pró-vida são acusados de ser assassinos de aborteiros (quem se beneficia com esses crimes, senão o lobby pró-aborto ?).

Esse é também o sentido da campanha atual em favor das drogas abortivas em massa (pílulas com baixa dosagem, RU486, Tetragynon, Preven, etc...), com o pretexto da redução de doses e, portanto, redução dos efeitos secundários, conjuntamente com a construção midiática da cortina de fumaça das "manipulações genéticas", representadas sempre pela imprensa como perigosas se um hipotético ditador malvado (eugenista, digamos) decidisse utilizá-las. Procura-se desse modo ocultar a verdadeira eugenia contemporânea, que se expressa nas brutais manobras de despovoamento do Terceiro Mundo e na crescente exploração dos humanos muito jovens: fabricação de células, de vacinas, de soros, de órgãos para enxertos, experimentos de enxertos humanos em animais e vice-versa, testes de eficácia de produtos químicos ou de vacinas contra doenças inoculadas, ou testes de armas químicas ou biológicas para desenvolver "armas étnicas"; atualmente é mais barato (venda proibida, cessão gratuita) utilizar um embrião humano(8), ou um feto, ou uma criança abortada por cesariana aos oito meses, para fazer esses experimentos repugnantes (civis e militares, que só têm um equivalente histórico nos "experimentos " de Mengele/ Von Vershuer, Clauberg, Ishi, etc.), que utilizar macacos ou ratos, cada vez mais protegidos por seus amigos, os ecologistas. Logicamente, dizem para nós que não estão querendo fabricar crianças loiras de olhos azuis(9). No entanto, eles sabem muito bem selecionar as crianças que serão reimplantadas em FIVETE : aquele que tiver um gene suspeito... ai! acabará num laboratório ou no esgoto!

O verdadeiro objetivo

A revolução sexual, inventada conjunta e separadamente pelos eugenistas da tendência Sanger (representada hoje pelo Planejamento Familiar) e pelos revolucionários de origem marxista (Wilhelm Reich, Gramsci, representados hoje na França pelos esquerdistas-comunistas no poder), é uma ferramenta extremamente poderosa para a mudança de valores e comportamentos. Levando a população a corromper-se por meio de práticas nocivas, cria-se um povo imoral, incapaz de lutar contra uma injustiça. Quando somos "parte do assunto", já não é possível protestar, porque no fundo somos cúmplices e rebelar-nos seria "passar para o lado contrário".

Paralelamente, a promoção do desemprego e a miséria material através da exploração da sociedade realizada em grande escala pelo Estado (impostos e encargos abusivos), enfraquece a capacidade de reação da população e incrementa a pressão que ela sofre.

Torna-se então possível exercer a engenharia social sobre esta "massa” anestesiada e condicionada, a fim de levar à prática grandes utopias. Para que elas se realizem, com efeito, é necessário mudar a natureza humana e que se produza uma evolução (no sentido darwiniano) do homem. Tais utopias são eugenistas e elitistas. Apesar do que pretendem suas propagandas, elas não visam ao bem comum, mas ao interesse das castas no poder, para quem a maior parte da população é inferior e deveria pertencer à mesma categoria que os animais.

Estas políticas carecem completamente de realidade a longo prazo, e são absurdas. (Se aceitamos considerar que seus promotores são sinceros.). Mas isso não impede que sejam implementadas com muito zelo e que acarretem verdadeiros estragos. Tal é o contexto no qual se inscrevem as políticas de aborto forçado (China) , de esterilização encoberta (Filipinas, Índia, México, Peru, etc...), de abortos disfarçados de contracepção (por toda parte), com o apoio financeiro e logístico da ONU através de seus diferentes ramos : FNUAP, UNICEF, OMS.

As primeiras vítimas são as crianças e as mulheres. O alvo para o qual se aponta é a instituição familiar, com a finalidade específica de impedir exercer um papel de contra-poder frente à hegemonia do Estado e da ONU. Por isso reaparecem os marxistas de todo tipo, cujo deus é a onipotência do Estado.

Junto com essa motivação política, há uma motivação religiosa dissimulada. A vontade de fazer abortar, e portanto de matar seres humanos, é fundamental em grande número de paganismos e na feitiçaria: o sacrifício, sobretudo o sacrifício humano, permite adquirir "poderes".

Uma das atividades e importante fonte de renda da feitiçaria, aliás, desde a Antiguidade é a elaboração de poções abortivas. (A palavra "farmácia" vem do grego "pharmakeia", que significa "feitiçaria".)(10)

É normal, então, que os promotores do aborto e da eugenia tenham afinidade com a New Age (surto contemporâneo dos paganismos ) e com a feitiçaria. Nas suas formas de atuar encontra-se um certo número de constantes próprias da alquimia, que é seu principal ramo ocidental:

a substituição da ciência pela superstição e por manipulações perigosas e pouco científicas, incluindo elementos espirituais (sacrifícios de crianças). A ONU se inscreve de maneira mais ou menos aberta nesta promoção da superstição: sua promoção da "carta da terra" põe de manifesto seu panteísmo materialista, adorador de Gaia, a terra-mãe, em oposição a todos os monoteísmos. O interesse dos seres humanos não está no centro de suas preocupações, está, porém, sobretudo uma "divindade" terra, para a qual os seres humanos seriam apenas uma ameaça. Portanto, eles não devem desenvolver-se em excesso, e daí o conceito de "desenvolvimento sustentável" (para Gaia), e a promoção da eugenia e o despovoamento.

a busca de uma pedra filosofal: a que transformaria a humanidade "bruta" de hoje numa humanidade "superior", e resolveria também o [falso] problema da superpopulação. Assim, os eugenistas sonham com esterilizantes de baixo custo e alta eficácia, e na sua perspectiva buscam colocar os pretendidos contraceptivos no Terceiro Mundo, explicando que irão transformar-se em ouro: o ouro do desenvolvimento econômico induzido por uma diminuição da fecundidade (isso é economicamente absurdo!)

o logro: o engano sobre os produtos e a preguiça dos alquimistas. Com efeito, "o móvel mais corrente dos alquimistas não é outro (...) que a incapacidade de ganhar a vida como todo o mundo e o desejo de subsistir por outro meio que a agricultura, o comércio ou o artesanato. (...) Eles preferem enriquecer-se imediatamente por um meio sobrenatural como a alquimia"(11). Não é esta uma boa descrição dos Sanger, Pincus e outros aprendizes de bruxo? Será que existe uma maneira mais desleal de enfrentar a concorrência dos países emergentes, que a de eliminá-los fisicamente?

O que fazer?

Nenhuma mulher na França se sentiu lograda, enganada, manipulada, depois de utilizar de boa fé a contracepção química, acreditando sinceramente não haver cometido aborto? Não haverá aqui matéria para denúncias por engano sobre os produtos, envenenamento, etc? Os pais cuja filha é envenenada pela "pílula", consideram sua perda como uma leve porcentagem?

Embora o boicote não seja legal na França, a pressão sobre os fabricantes bem pode existir: Roussel-Uclaf foi sensível a esta circunstância.
A verdade é uma potência capaz de fazer com que muitas cosas mudem, uma força que finalmente se imporá, apesar das dificuldades de comunicar esta mensagem a um público que em grande medida não deseja ouvi-la.

Mas não estamos aqui para contar fábulas agradáveis a nossos contemporâneos.

Thierry LEFEVRE


Notas:

1. L'incroyable histoire de la pilule, Bernard Asbell, Edição°1, 1996, pág.208

2. Bent Boving, "Implantation Mechanisms", in Mechanisms Concerned with Conception, ed. C. G. Hartman, (NY: Pergamon Press, 1963), 386

3. Advisory Committee on Obstetrics and Gynecology, Food and Drug Administration, 1969, Second Report on the Oral Contraceptives, app.4, "Report of the Task Force on Biologic Effects", Philip Corfman, presidente.

4. De la contraception à la ménopause, DOSSIER HORMONES, Barbara e Gideon Seaman, tradução francesa : Maya Surduts e Isabelle Vellay, revisão e adaptação : Catherine Sokolsky, Editions de l'Impatient, 1982, 1983, 1984. Título do original americano: Women and the crisis in sex hormones, ed. Rawson Associates, 1977.

5. na Internet: http://ec.princeton.edu/questions/ecabt.html.

6. O mesmo Baulieu descreve esta bruma: "Deve reconhecer-se que, entre a lei Neuwirth, que se refere à contracepção, e a lei Veil, referida à interrupção voluntária da gravidez, o arsenal regulamentar desconhece o período intermediário que vai da ovulação até o diagnóstico positivo de gravidez, passando pela preparação do endométrio e o início da implantação", Le Quotidien du Médecin, 30/10/1998.

7. cf. o mesmo comunicado de imprensa da OMS.

8. Não inventamos nada, infelizmente, porque isto se encontra na imprensa comum. Le Monde de 7/11/98 relata os primeiros resultados de uma pesquisa norte-americana: "Estes pesquisadores revelam (...) que conseguiram isolar e pôr em cultivo células embrionárias humanas capazes, naturalmente, de transformar-se e multiplicar-se de modo infinito em laboratório, e suscetíveis de dar origem aos diferentes tecidos que compõem o organismo humano. (...) Também descobriram que a introdução nas células humanas cultivadas ex vivo de um gene proveniente de um vírus cancerígeno -- o vírus SV40 -- lhes conferia um potencial ilimitado de divisão. Isso permitiu a criação de famílias de células provenientes de determinados órgãos : fígado, rim, cartílago... Tais famílias de células diferenciadas são de grande interesse para a pesquisa em farmacologia celular. No campo industrial, podem às vezes substituir os modelos animais. (...) A equipe norte-americano informa (...) que (...) conseguiu criar ex vivo cinco famílias de células ES humanas [por Embryonic Stem cells, células de formações embrionárias], a partir de trinta e seis embriões "frescos" ou conservados por congelação, e concebidos em todos os casos por fecundação in vitro."

9. é verdade, porque ainda não se sabe muito bem como fazê-lo. Mas na verdade trata-se de um ardil: evocam os horrores nazistas e afirmam ser ferozes opositores para recuperar melhor o espírito do nazismo.

10. Encontra-se por exemplo esta colusão no famoso "Affaire des Poisons" que ficou conhecido durante o reinado de Luís XIV, revelando práticas mistas de feitiçaria, sacrifícios humanos, adivinhação, alquimia, abortos e envenenamentos, que comprometeram um setor da alta sociedade daquela época (a que pertencia Mme. de Montespan, favorita do rei). Naquele momento, o rei protegeu seus amigos e permitiu que a justiça atingisse somente os outros, entre eles os executantes. Entre estes últimos se destacaram "la Voisin", bruxa e aborteira de mais de 2500 crianças; "la Filastre", que degolou alguns de seus próprios filhos em sacrifício; Guibourg, Cotton e outros sacerdotes desviados.

11. Ibn Khaldûn, Introdução à história universal, 1377. É verdade que os alquimistas têm uma espécie de afinidade com a moeda falsa.


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